Chegou sem titulo e confesso que no primeiro momento nem dei muita importancia, mas resolvi pulicar depois de ler.
(Sem Titulo)
Se os corações fossem pequenas casas, a cada pessoa seria destinado um cômodo.
A grande maioria jamais passaria da cozinha. Ficaria por ali, perambulando, à espera de um convite para a disputada sala de estar, onde tudo supostamente estaria acontecendo.Enquanto isso, algumas pessoas seriam encaminhadas à área de serviço, onde tentariam colocar as coisas em ordem. Iriam lavar, passar, limpar.
Tudo para agradar e, quem sabe, ser recompensadas.
Mas, mesmo que o dono da casa as tratasse com carinho, no fundo, elas saberiam o seu lugar. Os que forçassem a entrada seriam mandados diretamente para o banheiro, onde ficariam presos até que o proprietário decidisse dar ou não a descarga final. Aos poucos sortudos, caberiam os quartos. No plural, porque o dono da casa saberia que, ao longo da vida, iria receber mais de um hóspede importante.
Alguns seriam jogados no lixo, é triste admitir.
E depois seriam levados para fora de casa, em grandes sacos pretos. Outros até trocariam de cômodo. Dentre os festeiros da sala, um deles poderia passar a noite no quarto. Talvez mais de uma. E, talvez, depois de várias noites, esse mesmo indivíduo poderia acabar indo embora pela descarga.
Não existem regras definidas para o funcionamento dessa pequena casa. Uma mesma pessoa pode ocupar diferentes cômodos em diferentes corações. Você pode estar fadado à área de serviço de um, mas também pode ocupar a suíte master de outro. Todos nós, se já não estivemos, ainda estaremos em cada um desses lugares e experimentaremos a frustração de não nos sentirmos devidamente alocados. Mas, com sorte, também saberemos como é bom ser escolhido para um cantinho quente e protegido da casa.
De todo jeito, a maneira mais surpreendente de se conquistar um coração é quando você entra pela área de serviço, de mansinho. Sem fazer muito barulho, você chega até a festa da sala e, pouco a pouco, acaba se destacando entre os demais convidados. Quando menos espera, sua escova de dente já está no banheiro.
Abrir a porta do quarto agora é uma mera formalidade. Porque, a essa altura, a casa inteira também é sua.
Texto de Natalia Klein. Formada em Rádio e TV pela UFRJ, redatora do programa humorístico Zorra Total (pelo menos foi o que recebi)
1. Ensino de matemática em 1950:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda . Qual é o lucro?
2. Ensino de matemática em 1970:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00. Qual é o lucro?
3. Ensino de matemática em 1980:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção desse carro de lenha é R$ 80,00. Qual é o lucro?
4. Ensino de matemática em 1990:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção desse carro de lenha é R$ 80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
( ) R$ 20,00 ( ) R$40,00 ( ) R$60,00 ( ) R$80,00 ( ) R$100,00
5. Ensino de matemática em 2000:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção desse carro de lenha é R$ 80,00. O lucro é de R$ 20,00. Está certo?
( ) SIM ( ) NÃO
6. Ensino de matemática em 2008:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$100,00. O lucro é de R$20,00. Se você souber ler, coloque um X ao lado do R$20,00.
( ) R$20,00 ( ) R$40,00 ( ) R$60,00 ( ) R$80,00 ( ) R$100,00
Entre aslembranças de minha vida, destaco a alegria delecionar Português e Literatura noInstituto de Educação, no Rio. Começávamos nossalida, pontualmente, às7h15.
Salacheia, as alunas de blusa branca engomada, saiaazul, cabelos arrumados.Eram jovens de todas ascamadas. Filhas de profissionais liberais, demilitares, de professores, de empresários, de modestíssimos comerciários e bancários.Elascompunham um quadro muito equilibrado. Negras,mulatas, bem escuras ou claras, judias, filhasde libaneses e turcos, algumas com ascendência japonesa e várias nortistas com a inconfundívelmistura de sangue indígena. As brancas tambémeram diferentes. Umas tinham ares lusos, outraspareciam italianas.Enfim, um pequeno Brasil emcada sala.
Todasestavam ali pormérito!
O concursopara entrar no Instituto de Educação era famosopelo rigor e pelo alto nível de exigências.Naverdade, era um concurso para a carreira demagistério do primeiro grau, com nomeação garantida ao fim dos sete anos. Nunca, jamais,em qualquer tempo, alguma delas teve essedireito, conseguido por mérito, contestado porconta da cor de sua pele! Essa estapafúrdia discriminação nunca passou pela cabeça de nenhum político, nem mesmo quando o País viveu osdifíceis tempos do governo autoritário.
Estes dias compareci aosfestejos de uma de minhas turmas, numa lindamissa na antiga Sé, já completamenterestaurada e deslumbrante. Eram os 50anos da formatura delas! Lá estavam as minhas normalistas, agora alegres senhoras,muitas vovós, algumas aposentadas, outras aindanão.Lá estavam elas, muito felizes. Lindas mulatas de olhos verdes. Brancas de cabelospintados de louro. Negras elegantérrimas, esguias e belas.Judias com aquele ruivo típico.Eas nortistas, com seu jeito de índias.Na minha opinião, as mais bem conservadas. Lá pelastantas, a conversa recaiu sobre essa escandalosamania de cotas raciais.Todas contra!
Estabelecerigualdade com base na cor da pele? A raiz do problema é bem outra. Onde é que já se viu isso?Se melhorassem de fato as condições de trabalhodo ensino de primeiro e segundo graus na redepública, ninguém estaria pleiteando esseabsurdo. Uma das minhas alunas hoje étitular na Uerj. Outra é desembargadora. Váriassão ainda diretoras de escola. Duas promotoras. As cores, muitas. As brancas nãoparecem arianas. Nem sepode dizer que todas as mulatas são negras. Afinal, o Brasil éassim. A nossa mestiçagem é histórica, aconteceunaturalmente. O País não tem dialetos, falamostodos a mesma língua. Não há repressão religiosa mais grave. A Constituição determina que todos são iguais perante a lei, sem distinção denenhuma natureza! Portanto, é inconstitucional querer separar brasileiros pela cor da pele.Isso éracismo! E racismo é crimeinafiançável e imprescritível.
Perguntei:qual é o problema, então? É simples, mas édifícil.
A população pobre do País não está tendogovernos capazes de diminuir a distânciaeconômica entre ela e os mais ricos. Com isso seinstala a desigualdade na hora da largada. Osmais ricos estudam em colégiosparticulares caros. Fazem cursinhos caros.Passam nos vestibulares para as universidadespúblicas e estudam de graça, isto é, à custa dosimpostospagos pelos brasileiros, ricos epobres. Os mais pobres estudam em escolaspúblicas, sempre tratadas como investimentossecundários, mal instaladas, mal equipadas, malcuidadas, com magistério mal pago e semestímulos. Quem viveu no governo Carlos Lacerdase lembra ainda de como o magistério público doensino básico era bem considerado, respeitado eremunerado.
Hoje, com acidade do Rio de Janeiro devastada após a administração de Leonel Brizola. Com favelas eseus moradores entregues ao tráfico e àcorrupção, e com a visão equivocada de que umsistema de ensino depende de prédios e dearquitetos, nunca a educação dos mais pobres caiu a um nível tãobaixo. Achar que os únicos prejudicados por esta visão populista doprocesso educativo são os negros é umafarsa. Não éverdade! Todos os pobres são prejudicados: osbrancos pobres, os negros pobres, os mulatos pobres, os judeus pobres, os índios pobres!Quem quisersanar esta injustiça deve pensar na populaçãopobre do País, não na cor da pele dosalunos. Tratemde investir de verdade no ensino público básico.Melhorar o nível do magistério. Retornar aoscursos normais. Acabar comessa históriade exigir diploma de curso de Pedagogia paraensinar no primeiro grau.Pagar deforma justa aos professores, de acordo com ograu de dificuldades reais que eles têm deenfrentar para dar as suasaulas. Nada podeser sovieticamente uniformizado. Nãodá!
Para afliçãonossa, o projeto que o Senado vai discutir é uma barbaridade do ponto de vista constitucional,além de errar o alvo. Se desejamque os alunos pobres, de todos os matizes,disputem em condições de igualdade com os ricos,melhorem a qualidade do ensinopúblico.Economizemos gastos em propaganda. Cortem as mordomiasfederais, as estaduais e as municipais. Impeçama corrupção. Invistam nos professores e nasescolas públicas de ensinobásico.
Oexemplo do esporte está aí: já viram algum jovematleta, corredor, negro ou não, bemalimentado, bem treinado e bem qualificado,precisar que lhe dêem distâncias menores ecoloquem a fita de chegada mais perto? É claroque não. É na largada que se consagra aigualdade. Os pobres precisam de igualdade de condições na largada.
Foi isso oque as minhas normalistas me disseram na festados seus 50 anos de magistério! Com elas,foi assim.
SandraCavalcanti
(Professora,jornalista, ex-deputadafederal constituinte, secretáriade Serviços Sociais no governo CarlosLacerda, fundou e presidiu o BNHno governo CasteloBranco)