Texto de Natalia Klein
Chegou sem titulo e confesso que no primeiro momento nem dei muita importancia, mas resolvi pulicar depois de ler.
(Sem Titulo)
Se os corações fossem pequenas casas, a cada pessoa seria destinado um cômodo.
A grande maioria jamais passaria da cozinha. Ficaria por ali, perambulando, à espera de um convite para a disputada sala de estar, onde tudo supostamente estaria acontecendo. Enquanto isso, algumas pessoas seriam encaminhadas à área de serviço, onde tentariam colocar as coisas em ordem. Iriam lavar, passar, limpar.
Tudo para agradar e, quem sabe, ser recompensadas.
Mas, mesmo que o dono da casa as tratasse com carinho, no fundo, elas saberiam o seu lugar. Os que forçassem a entrada seriam mandados diretamente para o banheiro, onde ficariam presos até que o proprietário decidisse dar ou não a descarga final. Aos poucos sortudos, caberiam os quartos. No plural, porque o dono da casa saberia que, ao longo da vida, iria receber mais de um hóspede importante.
Alguns seriam jogados no lixo, é triste admitir.
E depois seriam levados para fora de casa, em grandes sacos pretos. Outros até trocariam de cômodo. Dentre os festeiros da sala, um deles poderia passar a noite no quarto. Talvez mais de uma. E, talvez, depois de várias noites, esse mesmo indivíduo poderia acabar indo embora pela descarga.
Não existem regras definidas para o funcionamento dessa pequena casa. Uma mesma pessoa pode ocupar diferentes cômodos em diferentes corações. Você pode estar fadado à área de serviço de um, mas também pode ocupar a suíte master de outro. Todos nós, se já não estivemos, ainda estaremos em cada um desses lugares e experimentaremos a frustração de não nos sentirmos devidamente alocados. Mas, com sorte, também saberemos como é bom ser escolhido para um cantinho quente e protegido da casa.
De todo jeito, a maneira mais surpreendente de se conquistar um coração é quando você entra pela área de serviço, de mansinho. Sem fazer muito barulho, você chega até a festa da sala e, pouco a pouco, acaba se destacando entre os demais convidados. Quando menos espera, sua escova de dente já está no banheiro.
Abrir a porta do quarto agora é uma mera formalidade.
Porque, a essa altura, a casa inteira também é sua.
Texto de Natalia Klein. Formada em Rádio e TV pela UFRJ, redatora do programa humorístico Zorra Total
(pelo menos foi o que recebi)
(Sem Titulo)
Se os corações fossem pequenas casas, a cada pessoa seria destinado um cômodo.
A grande maioria jamais passaria da cozinha. Ficaria por ali, perambulando, à espera de um convite para a disputada sala de estar, onde tudo supostamente estaria acontecendo. Enquanto isso, algumas pessoas seriam encaminhadas à área de serviço, onde tentariam colocar as coisas em ordem. Iriam lavar, passar, limpar.
Tudo para agradar e, quem sabe, ser recompensadas.
Mas, mesmo que o dono da casa as tratasse com carinho, no fundo, elas saberiam o seu lugar. Os que forçassem a entrada seriam mandados diretamente para o banheiro, onde ficariam presos até que o proprietário decidisse dar ou não a descarga final. Aos poucos sortudos, caberiam os quartos. No plural, porque o dono da casa saberia que, ao longo da vida, iria receber mais de um hóspede importante.
Alguns seriam jogados no lixo, é triste admitir.
E depois seriam levados para fora de casa, em grandes sacos pretos. Outros até trocariam de cômodo. Dentre os festeiros da sala, um deles poderia passar a noite no quarto. Talvez mais de uma. E, talvez, depois de várias noites, esse mesmo indivíduo poderia acabar indo embora pela descarga.
Não existem regras definidas para o funcionamento dessa pequena casa. Uma mesma pessoa pode ocupar diferentes cômodos em diferentes corações. Você pode estar fadado à área de serviço de um, mas também pode ocupar a suíte master de outro. Todos nós, se já não estivemos, ainda estaremos em cada um desses lugares e experimentaremos a frustração de não nos sentirmos devidamente alocados. Mas, com sorte, também saberemos como é bom ser escolhido para um cantinho quente e protegido da casa.
De todo jeito, a maneira mais surpreendente de se conquistar um coração é quando você entra pela área de serviço, de mansinho. Sem fazer muito barulho, você chega até a festa da sala e, pouco a pouco, acaba se destacando entre os demais convidados. Quando menos espera, sua escova de dente já está no banheiro.
Abrir a porta do quarto agora é uma mera formalidade.
Porque, a essa altura, a casa inteira também é sua.
Texto de Natalia Klein. Formada em Rádio e TV pela UFRJ, redatora do programa humorístico Zorra Total
(pelo menos foi o que recebi)
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